Resenha: Eita Gota! Uma viagem paraibana - Efigênio Moura

26 julho 2016

Eita Gota! Uma viagem paraibana
 Autor:  Efigênio Moura
Páginas:251
Editora: Lattus - Editora da UFPB
Nota: 5/5
 Compre: Estante Virtual

Conta a estória de “Das Neves”, monteirense da Rua dos Pereiros que leva seu neto para pagar uma promessa na Basílica de Nossa Senhora das Neves em João Pessoa. A subida da ladeira da Borborema parece ser a única complicação em que “Das Neves” e seu neto se metem, mas é na volta, dentro de uma veraneio 73, irregular como o motorista “Seu Agripino” e junto a mais 4 passageiros que todas as situações de quem já viajou em transporte alternativo acontecem.



Bom, eu não sei direito como fazer essa resenha, tendo vista que a história do livro também foi um pouco da minha vida. Não tem como ser completamente imparcial. Então vão desculpando.


Então, tudo começa com uma promessa que Das Neves está pagando na Basílica de Nossa Senhora das Neves, na cidade de João Pessoa-PB, e junto dela está o seu neto, Netinho (ha ha), que é o típico moleque maluvido, que pentelha o caminho todo da avó. Depois de paga a promessa, Das Neves procura um desses transportes alternativos que os leve pra Monteiro-PB.

Tudo acertado, a viagem começa. A partir disso, conhecemos vários novos personagem, como Seu Agripino (o motorista da Veraneio MN 1903), Flora (a menina que saiu da cidade pequena para tentar a vida na capital), Horácio (o músico apaixonado e namorado de Flora), Quitéria (a paquera do Motorista) e assim esse grupo meio inusitado parte em direção a Monteiro, mas durante o trajeto o carro para diversas vezes pra buscar e entregar encomendas, pegar e deixar passageiros. Entre subidas e descidas, aparecem João (o ex-jogador mulherengo), Zé da Tuba (o ex-soldado músico) e Clarissa (a doutora "galega" da cidade grande).

A viagem é cheia de causos e atribulações, uma vez que o motorista para "driblar" a vigilância da polícia rodoviária,  resolve seguir por caminhos diversificados e seguindo pelas estradas de terra seca da Paraíba. No meio disso, não conhecemos apenas a paisagem árida do sertão/cariri paraibano, mas a beleza simples das cidades do interior e as particularidades da vida desses personagens.

Entre idas e vindas, o autor nos traz não somente o cenário nordestino já manjado dos filmes, que ou é cômico ou trágico, mas a enormidade da cultura nordestina, com todos as suas palavras, os seus trejeitos e uma variedade de sentimentos não antes representados com tamanha intensidade.

Cada personagem traz uma história e o enredo de suas vidas é interligado por pequenas linhas invisíveis de pensamentos e emoções, que muitos deles nem sabem que existem.

A narrativa do livro é feita em terceira pessoa e traz o típico jeito do paraibano de contar histórias. Os diálogos são muito oportunos e bem pensados, são reais. Os personagens são bem construídos e os capítulos são intercalados por um glossário , um título, um cenário e um objetivo. A escrita, apesar de muito característica, é simples e fácil de compreender.

O narrador é descritivo e tem necessidade de explicar o que está acontecendo e porque está acontencendo determinado fato. Não achei isso ruim, eu mesma me sinto assim, de ter que explicar "o significado" das minhas palavras. Achei de um cuidado extremo do autor, bonito até. Ter essa vontade de explicar uma coisa que é só sua a outra pessoa.

Para mim, foi um livro cheio de emoções conturbadas, eu ri e chorei, eu me enxerguei ali naquela história, na minha primeira viagem para fora da minha cidadezinha (que por coincidência é Monteiro), para conhecer um mundo que eu não acreditava que existia. É realmente difícil fazer uma resenha desse livro sem transmitir um pouco da minha história também. Porque eu me vi nas palavras de Efigênio Moura, eu vi minha vida escrita, o primeiro livro de ficção com personagens e lugares que eram/são reais demais pra mim. É estranho ver seu mundo exposto assim, mas também é gratificante e representativo.

Nunca antes eu tive a oportunidade de ver um livro que falasse tão abertamente sem pejorativos, preconceitos ou esteriótipos sobre a nossa realidade. Durante muito tempo da minha vida, eu imaginava enredos e personagens através das histórias que eu via e vivia, no entanto depois que eu cresci, acabei descobrindo que o universo literário não deixava as portas muito abertas para literatura brasileira, muito menos para literatura nordestina, mesmo todo mundo sabendo como o Brasil é um país rico de tantas culturas, com tantas experiências e histórias diferentes para serem contadas. Parece que esse "tipo" de literatura não é muito comercial, infelizmente. Tanto é que o livro não é vendido por grandes livrarias. Nem conhecido dos grandes críticos.

Mas ainda há tempo. E eu espero do fundo do meu coração ver histórias que se passem em todos os cantos do país. Quero ver sotaques. Imaginar personagens diferentes. Quero ver amores de São João sendo narrados e compartilhados, porque eles também precisam ser vistos. Quero poder ler coisas que me tragam sentindo e representatividade.

Essa resenha, antes de tudo, foi uma crítica, uma realização e um desabafo.

Essa leitura, como eu já havia dito, me trouxe sentimentos contraditórios, inquientantes e ao mesmo tempo reconfortantes. No mais, recomendo o livro e pretendo ler todos os outros do autor, bem como os dos demais autores da região, porque é importante ter um pouquinho da sua história escrita e valorizar todos os autores, principalmente os nacionais.


Melissa.



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17 comentários:

  1. Esse sim é um livro que nos mostra a realidade brasileira.
    Só de olhar a capa percebe-se isso.
    Adoro livros nacionais que nos apresentam personagens verdadeiros.Que tem aos montes em cada canto do país.
    Estou com vontade de conhecer o trabalho desse autor e seus livros.

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  2. Este ano estou me dedicando bastante às leituras nacionais, e cada vez fico mais impressionada em ver a quantidade de ótimas histórias que temos por aqui e são tão desvalorizadas. Livros como este, parecem que entram em nós e nos tocam de uma maneira diferente. Tão bom saber que há autores que conseguem mostrar a realidade, como você disse, sem estereótipos ou preconceitos. Vou incluí-lo na minha lista ♥

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  3. Não sei o que pensar sobre esse livro, mas fiquei interessada em ler ele.

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  4. Oiii Roberta, como vai garota?
    Eu fiquei chocada aqui porque não conhecia a obra em si, e adoro temas assim, que retratam até mesmo uma esperança, essa capa que tu escolheste está um arraso <3
    Beijinhoss

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  5. Pelo que li, a capa é um grande retrato do que vamos conferir na leitura. Nunca tinha visto este livro, muito menos lido algo sobre ele. Uma maravilha poder conhecer um pouco, ou um pedaço deste país tão grande e diverso.
    Bjs!

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  6. Oi, eu particularmente não me interessei pela historia, a premissa não me cativou, não conseguiu me prender com o seu enredo, por isso, não leria o livro.
    bjus

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  7. Oi linda,

    Eu lhe entendo perfeitamente.
    Quando começamos a ler e descobrimos um mundo que vai além da nossa casa ficamos perdidos e tentamos nos identificar com cenários e personagens e quando encontramos livros que retratem nossa realidade, nos sentimos em casa e nos libertamos de um mundo globalizado e que vira e mexe quer mostrar que apenas o que é de fora é bom e a diversidade é apenas discurso da Sociologia.

    Eu leio de tudo e lhe digo que no Brasil há mais qualidade literária que muitos países que se acham o Berço da Cultura Literária.

    Beijos!

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  8. Olá, gente que livro massa!!! Como boa nordestina já fiquei mega curiosa pela leitura. Me lembrou muito os contos do Ariano Suassuna, o que me deixou bem nostalgica agora. Amei sua resenha. Quero ver mais livros como esse por aqui. Bjs

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  9. Olá!
    Achei a história interessante e parece ser bem engraçadinha. Não conhecia o livro e pela resenha vejo que a leitura te conquistou e muito. Mas não sei se leria por agora, talvez mais pra frente quem sabe!

    Beijos!
    http://lovesbooksandcupcakes.blogspot.com.br//

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  10. Amei a premissa do livro, realmente a cultura nordestina é rica e não merece ser vista como muitos a imaginam, achei interessante o fato de conhecermos vários personagens e até os costumes do povo, espere que o mercado nacional cresça e tenhamos mais livros assim, para nos identificar e se orgulhar de nosso estado/país, e até conhecer outros lugares

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  11. Não há nada melhor do que uma história que nos faz rir e chorar e, sobretudo, que faz com nos enxerguemos dentro dela. Acho que que essa leitura deve ter sido algo muito especial para você. Infelizmente, acho que não é só na literatura que as portas se fecham para os nordestinos no Brasil, o que é uma pena, já que é uma região de nosso paí que possui uma grande riqueza cultural. Adorei a premissa, já anotei o livro.

    Tatiana

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  12. Primeiramente parabéns pelo blog, não conhecia e amei o layout, amo lilás :D

    Vamos para resenha, Melissa me emocionei com sua resenha, além de falar sobre a obra você um desabafo que eu muito concordo, a realidade da literatura nacional infelizmente é essa, ou só se passa nas capitais ou é totalmente americanizada, fiquei muito feliz de ter um livro com temática nordestina que não caia nos cliches como vc disse de comédia ou drama.

    Amei a capa do livro, nos mostra bastante do que se trata a história e eu gosto muito disse. Realmente fiquei muito curiosa com a obra, parabéns ao autor!

    Compulsão Literária

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  13. Não conhecia o livro e meu sua resenha perfeita, me ganhou de todas as formas, realmente esse livro de livros não é bem aceito, mas que deveria, certeza que vou atras e ler o livro, fiquei extremamente curiosa

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  14. Olá, eu ainda não conhecia o livro mas só o título já me deixou curiosa. Parece ser um livro divertido, e gostaria de lê-lo por me interessar pela cultura nordestina, que é um pouco parecida com a do interior de Minas. Ótima resenha!

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  15. Melissa, não conhecia o livro, mas só o fato dele retratar uma história nordestina já me deixou com muita vontade de lê-lo.
    Não sei se iria gostar dessa descrição do autor, mas daria uma chance.
    Que livro cheio de emoções!

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  16. Não conhecia e apesar de não ser muito o estilo que leio me pareceu um livro verdadeiro e divertido.
    www.belapsicose.com

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  17. Melissa, dei valor pra sua resenha. Também sou do Nordeste e sei como é difícil ler livros sobre a realidade daqui sem exagerar na comédia ou na tragédia. É um bom ver um equilíbrio.

    :*

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